Acompanho as histórias em quadrinhos do
Wolverine (e também dos X-Men) desde 2003. Na época, o filme X-Men 2 me
despertou um interesse muito grande para conhecer mais sobre o personagem e
aquele universo. Então, naturalmente, a transição dos filmes para as hqs foi
muito rápida. Naquela época, uma coisa já havia me surpreendido, que era uma
maior permissividade da violência dentro dos quadrinhos, principalmente se
compararmos com os desenhos animados, que são limitados por questões de
censura.
Quando nós olhamos um personagem como
Wolverine, com garras de adamantium, fator de cura e temperamento forte, logo
de cara associamos que ele é um personagem dependente da violência. Ora, se ele
tem garras, ele corta pessoas. Se ele tem cura, faz sentido ele se ferir para
vermos o dito poder em ação.
Porém, diversas adaptações conseguiram
trazer o Wolverine de forma correta, respeitando o material base, sem
necessariamente trazer a violência junto com o personagem. Portanto, nesta
matéria, veremos um pouco dos dois lados, como o Wolverine ganha (e muito) com
violência, da mesma forma que ele não necessariamente precisa dela para brilhar
enquanto um grande personagem.
Os jogos, as HQs e até desenhos: Como a
violência colaborou para o personagem
A primeira coisa que me vem à mente quando
associo Wolverine a violência, é o jogo X-Men Origins: Wolverine, mais
especificamente, a versão lançada para os consoles da sétima geração, PS3, Xbox
360 e claro, o PC. Essa edição tinha o subtítulo de “Uncaged Edition”, por se
tratar da versão principal do jogo do filme (já que haviam versões pra outros
consoles, como o 3DS e o PS2). O denominador comum das críticas foi que o jogo
era muito melhor do que o filme, mesmo que a história do jogo fosse idêntica,
com exceção da adição de um capítulo envolvendo sentinelas e mais detalhes
sobre o dia-a-dia do Time X na África.
Então o que fez as pessoas serem mais
condescendentes, digamos assim, com aquele Blob, aquele Deadpool e demais
saídas de roteiro? A violência. O jogo continha finalizações brutais contra os
seus adversários, incluindo arrancar a cabeça do piloto de helicóptero na
própria hélice, além de finalizações específicas para alguns tipos de inimigo.
O combate brutal é um dos melhores já feitos dentro dos jogos, extremamente
dinâmico, responsivo, e ao mesmo tempo, propositivo em relação aos inimigos. A
violência fez com que as pessoas vissem o personagem de uma forma mais “bad ass”,
diferente do que vinha sendo feito dentro dos desenhos e até mesmo no filme,
pois embora Wolverine fure as pessoas, tudo é muito discreto.
Quanto as hqs, os exemplos para violência
não faltam, temos Velho Logan, a própria série Max, dentre outras. Todas elas
com uma carga de violência relativa, que faz algumas cenas, como essa do Logan
contra o Hulk na última edição da saga, se tornarem icônicas.
E quando o Wolverine não tem violência?
Será que o personagem perde bastante?
A primeira coisa que me incomoda quando
falam que o Wolverine é pesadamente dependente de violência, é quando penso na
série animada dos anos 90. Lá, Wolverine não derramou uma gota de sangue dos
seus inimigos. Nem por isso, os fãs deixaram de se divertir com o personagem,
que figurava entre os mais populares do desenho. Diversos vídeos inclusive, são
feitos relembrando as grandes frases, e não as grandes lutas, do personagem,
como podemos ver abaixo.
Além disso, se formos as origens,
Wolverine não tinha muita violência atrelada a ele em suas histórias iniciais.
Nos X-Men, a maioria das cenas mais brutais eram cortadas para o espanto dos
membros da equipe ao vê-lo fazendo tal coisa, ou contavam com a cor uniforme,
disfarçando a violência, como foi na lendária Uncanny X-Men #133.
Indo um pouco mais adiante, o próprio das
mensais em 1988, com foco em Madripoor, também não tinham altas doses de
violência, onde o investimento ficava mais na criatividade e no personagem do
que necessariamente nas lutas. Obviamente, que com o passar do tempo, algumas
histórias foram ficando mais permissivas com relação a violência.
E onde eu quero chegar com isso?
O que me incentivou a escrever esse texto
foram as críticas recentes sobre o vindouro filme Logan. Muita gente tem focado
em o quanto a violência colaborou para o filme, sendo que ao mesmo tempo, muita
gente fala que o aspecto adulto da obra cinematográfica não está atrelado só a
isso, mas ainda assim, ficam massificando “violência violência violência”. Não
vi o filme ainda, mas tenho certeza que, da mesma forma que não é o extremo de
que a violência foi vital, também não é o outro extremo de que ela foi
supérflua. Lógico que o sangue, os cortes, ou até mesmo desmembramentos
acrescentam um aspecto mais legal e realista para o personagem, mas tratar isso
como a única coisa que faltava para ele no cinema (e isso vale para outras
mídias também) me soa como um exagero, principalmente já considerando exemplos
citados aqui de que o personagem conseguiu render muito bem sem necessariamente
arrancar de sangue de ninguém.



