quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Wolverine e violência: Uma união indispensável?

Acompanho as histórias em quadrinhos do Wolverine (e também dos X-Men) desde 2003. Na época, o filme X-Men 2 me despertou um interesse muito grande para conhecer mais sobre o personagem e aquele universo. Então, naturalmente, a transição dos filmes para as hqs foi muito rápida. Naquela época, uma coisa já havia me surpreendido, que era uma maior permissividade da violência dentro dos quadrinhos, principalmente se compararmos com os desenhos animados, que são limitados por questões de censura.
Quando nós olhamos um personagem como Wolverine, com garras de adamantium, fator de cura e temperamento forte, logo de cara associamos que ele é um personagem dependente da violência. Ora, se ele tem garras, ele corta pessoas. Se ele tem cura, faz sentido ele se ferir para vermos o dito poder em ação.
Porém, diversas adaptações conseguiram trazer o Wolverine de forma correta, respeitando o material base, sem necessariamente trazer a violência junto com o personagem. Portanto, nesta matéria, veremos um pouco dos dois lados, como o Wolverine ganha (e muito) com violência, da mesma forma que ele não necessariamente precisa dela para brilhar enquanto um grande personagem.

Os jogos, as HQs e até desenhos: Como a violência colaborou para o personagem
A primeira coisa que me vem à mente quando associo Wolverine a violência, é o jogo X-Men Origins: Wolverine, mais especificamente, a versão lançada para os consoles da sétima geração, PS3, Xbox 360 e claro, o PC. Essa edição tinha o subtítulo de “Uncaged Edition”, por se tratar da versão principal do jogo do filme (já que haviam versões pra outros consoles, como o 3DS e o PS2). O denominador comum das críticas foi que o jogo era muito melhor do que o filme, mesmo que a história do jogo fosse idêntica, com exceção da adição de um capítulo envolvendo sentinelas e mais detalhes sobre o dia-a-dia do Time X na África.
Então o que fez as pessoas serem mais condescendentes, digamos assim, com aquele Blob, aquele Deadpool e demais saídas de roteiro? A violência. O jogo continha finalizações brutais contra os seus adversários, incluindo arrancar a cabeça do piloto de helicóptero na própria hélice, além de finalizações específicas para alguns tipos de inimigo. O combate brutal é um dos melhores já feitos dentro dos jogos, extremamente dinâmico, responsivo, e ao mesmo tempo, propositivo em relação aos inimigos. A violência fez com que as pessoas vissem o personagem de uma forma mais “bad ass”, diferente do que vinha sendo feito dentro dos desenhos e até mesmo no filme, pois embora Wolverine fure as pessoas, tudo é muito discreto.
Quanto as hqs, os exemplos para violência não faltam, temos Velho Logan, a própria série Max, dentre outras. Todas elas com uma carga de violência relativa, que faz algumas cenas, como essa do Logan contra o Hulk na última edição da saga, se tornarem icônicas.

E quando o Wolverine não tem violência? Será que o personagem perde bastante?
A primeira coisa que me incomoda quando falam que o Wolverine é pesadamente dependente de violência, é quando penso na série animada dos anos 90. Lá, Wolverine não derramou uma gota de sangue dos seus inimigos. Nem por isso, os fãs deixaram de se divertir com o personagem, que figurava entre os mais populares do desenho. Diversos vídeos inclusive, são feitos relembrando as grandes frases, e não as grandes lutas, do personagem, como podemos ver abaixo.

Além disso, se formos as origens, Wolverine não tinha muita violência atrelada a ele em suas histórias iniciais. Nos X-Men, a maioria das cenas mais brutais eram cortadas para o espanto dos membros da equipe ao vê-lo fazendo tal coisa, ou contavam com a cor uniforme, disfarçando a violência, como foi na lendária Uncanny X-Men #133.

Indo um pouco mais adiante, o próprio das mensais em 1988, com foco em Madripoor, também não tinham altas doses de violência, onde o investimento ficava mais na criatividade e no personagem do que necessariamente nas lutas. Obviamente, que com o passar do tempo, algumas histórias foram ficando mais permissivas com relação a violência.

E onde eu quero chegar com isso?


O que me incentivou a escrever esse texto foram as críticas recentes sobre o vindouro filme Logan. Muita gente tem focado em o quanto a violência colaborou para o filme, sendo que ao mesmo tempo, muita gente fala que o aspecto adulto da obra cinematográfica não está atrelado só a isso, mas ainda assim, ficam massificando “violência violência violência”. Não vi o filme ainda, mas tenho certeza que, da mesma forma que não é o extremo de que a violência foi vital, também não é o outro extremo de que ela foi supérflua. Lógico que o sangue, os cortes, ou até mesmo desmembramentos acrescentam um aspecto mais legal e realista para o personagem, mas tratar isso como a única coisa que faltava para ele no cinema (e isso vale para outras mídias também) me soa como um exagero, principalmente já considerando exemplos citados aqui de que o personagem conseguiu render muito bem sem necessariamente arrancar de sangue de ninguém.