sexta-feira, 27 de julho de 2018

John Byrne vs. Jim Lee: Quem é o artista definitivo dos X-Men?



Para mim, e creio que pra muita gente, estes são os dois melhores desenhistas que já passaram pela franquia mutante. Ambos estiveram em fases que de alguma forma, causaram um grande impacto na indústria dos quadrinhos, tanto no quesito vendas quanto no quesito crítica. Vale ressaltar também que os dois trabalharam com Chris Claremont, que ficou à frente dos títulos mutantes por muitos anos.
Então, vamos conhece-los um pouco mais:

John Byrne
Nascido na Inglaterra mas naturalizado canadense, John Byrne é conhecido como o “sucessor de Jack Kirby”, embora o mesmo, negue o título. Ele entrou para o Hall da Fama dos quadrinhos em 2015. Teve como trabalhos notórios: X-Men e Quarteto Fantástico na Marvel, além de Superman na DC. Nos X-Men, ao lado de Chris Claremont, protagonizou para muitos a melhor fase da história da franquia, com arcos como A Saga da Fênix Negra e Dias de um Futuro Esquecido, tão marcantes a ponto de já terem sido adaptados para desenhos e cinema.

Jim Lee
Nascido na Coreia do Sul mas naturalizado americano, Jim Lee entrou para a Marvel no fim dos anos 1980. Junto com Chris Claremont, tem com muita folga, a revista mais vendida da história dos quadrinhos: X-Men número 1 de 1992, que passou de 8 milhões de cópias vendidas. Jim Lee praticamente é sinônimo de anos 90, com um estilo próprio, que estourou quando trabalhou na franquia mutante. Fora da Marvel, teve trabalhos notáveis na DC com Batman e Superman, e lá trabalha até hoje.

Teremos 5 critérios para a disputa. Os critérios serão pontuados, considerando os aspectos mais referentes a HQs em si, como capas e arte interna valendo mais pontos, e outros critérios valendo menos:
1- Capas: serão analisadas as capas, considerando adequação a história, criatividade na composição e claro, beleza. 2 pontos.
2- Cenas de ação: aqui, narrativa e dinamismo ganham destaque. 2 pontos.
3- Expressividade: Não só de ação vive o homem, então julgarei a emoção das cenas de diálogos. 2 pontos.
4- Designs: O que John Byrne e Jim Lee criaram em termos visuais? Aqui pretende-se englobar personagens e uniformes. 1 ponto.
5- Sketches/Pinups: John Byrne e Jim Lee fizeram muitas artes independente dos quadrinhos relacionadas aos X-Men, e aqui colocaremos algumas pra julgamento. 1 ponto.


As Capas
Nas capas, muitas icônicas. Os estilos aqui são bem diferentes e a escolha vai ser difícil. John Byrne ainda fazia capas que continham balões, bem característico dos primórdios dos quadrinhos. Byrne também se preocupava com a capa passar o que ia ser a história de fato. Já Jim Lee, praticamente parecia tratar as capas como pôsteres. É pose heroica, dando só a pista de quais personagens estarão na história. Em contrapartida, sua arte nos personagens causa mais impacto ao leitor.

John Byrne
Capa da edição 112, destaque para a expressividade em Wolverine (medo) e Magneto (raiva)

130, com um capricho absurdo nas cores para fazer a iluminação dos poderes de Cristal

133, edição que Wolverine finalmente mostrou que é o melhor no que faz. O dinamismo da cena é impecável. Interessante ver como o herói se destaca frente aos demais em termos físicos, algo que Byrne sempre se preocupou em mostrar na sua arte: heróis não são pessoas comuns

135, brincando com a Fênix esmagando o logo dos X-Men. Aqui destaco a expressividade no rosto de Jean Grey, bem condizente com a perda de controle para a força Fênix

136, logotipo consertado, mas com rachaduras, e o eventual desespero da morte de Jean (que ainda não aconteceu). Foi a capa do encadernado em capa dura da Panini

141, uma capa tão fantástica que cansou de ser copiada em várias outras histórias. Capricho na expressividade (preocupação de Kitty e determinação de Wolverine), na iluminação (luz destacando os fugitivos e os mortos/presos, com o escuro em volta). Realmente, de aplaudir

Referência a capa no jogo Ultimate Marvel vs Capcom 3

Jim Lee
Pose heroica? É isso que você tem numa capa maravilhosa, lembrada até hoje pelos fãs, numa história que, das one-shots, é uma das melhores da história da franquia mutante

Jim Lee também brinca com o logo dos X-Men, se perdendo em meio a ação. Dinamismo nota 10 na capa

Poses heroicas por todo lado em 272 e 274. A capa da 272 foi escolhida para ser a do encadernado de Programa de Extermínio da Panini

Na 275, Jim Lee fez uma capa digna de pôster. Embora não seja fã das roupas “padronizadas”, a arte das bordas da capa é fenomenal. Aqui, estou usando a original, pois há uma versão colorida digitalmente com cores nas bordas

E por falar em capa pôster, provavelmente essa é a maior capa já feita na história da franquia. Essa arte é o maior sinônimo artístico de X-Men existente

Voltam as poses heroicas, com a mão de Ômega Vermelho em primeiro plano. Jim fará uma capa em Batman muito similar a essa


Capas de rosto costumam ser simples, mas essa aqui é digna de ser lembrada, num traço bem característico dos anos 1990

Mais um grande acerto numa capa de batalha, entre Wolverine e Motoqueiro Fantasma

Capa com os X-Men em fileira. Se impõe respeito? De sobra

Qual a função de uma capa? Chamar atenção? Sim. Dar uma primeira impressão do que é a história? Também. No quesito atenção, ambos conseguem prender muito bem. Jim Lee tem uma beleza bem característica na sua arte, e parece ter um toque especial para desenhar X-Men. Ele também consegue passar uma ideia condizente do que será a história em grande parte delas. Contudo, creio que no quesito criatividade, ele fica consideravelmente para trás. A arte de Byrne é tão bela quanto a de Lee, e também chama bastante atenção, brincando com o logotipo “X-Men” e fazendo composições maravilhosas, bem mais variadas que as de Lee. Considerando isso, dou a vitória no quesito capas a John Byrne. Mas, faço uma ressalva: Acho que a melhor capa já desenhada envolvendo os X-Men é a número 1 de 1991.
Vencedor: John Byrne

Cenas de Ação
John Byrne
Iremos destacar algumas das cenas de ação de John Byrne. O artista é um dos ícones do chamado “Estilo Marvel” de se fazer quadrinhos. Byrne tem uma narrativa fantástica, e muito detalhada para a época que ele trabalhava. Temos clara noção de tudo que está acontecendo no momento da ação.
Outro ponto interessante são os detalhes, como as referências nos fundos aos cenários de perspectiva, e também a escolha por cenas sem fundo, que destacam mais a pose e a dinâmica do golpe dado pelo herói ou vilão. Para mim, Byrne fez a melhor sequência de ação de Wolverine em toda a história do personagem.
X-Men vs Magneto 1: os X-Men derrotados um a um. Destaque para a narrativa na cena com Noturno e Colossus, e depois Wolverine.


X-Men vs Magneto 2: No número seguinte, o confronto com maior entrosamento da equipe. Noturno, Colossus, Fera e Noturno atacando Magneto é o destaque.
Wolverine na Terra Selvagem: Sequência curta, com Wolverine derrubando a guarda aérea da Terra Selvagem.
X-Men vs Tropa Alfa: Confronto entre equipes, maravilhosamente bem contado, com confrontos um a um mais uma vez.


 

Wolverine no Clube do Inferno: Como já ressaltei antes, uma obra de arte de Wolverine lutando. As imagens falam melhor que qualquer comentário.


Fênix vs X-Men 1: Logo após a saída do Clube do Inferno, Fênix perde o controle e se torna Fênix Negra. O confronto aqui é destacado pela expressividade, com os X-Men perplexos a todo momento que sua amiga está descontrolada.

Fênix no espaço: A destruição de um sistema inteiro de planetas, pela necessidade de alimentar seu grande poder. Byrne fez uma das melhores narrativas de sua carreira.

Fênix vs X-Men 2: Também no um a um, a derrota momentânea dos heróis. A narrativa aqui pula mais do que anteriormente, compensada com uma arte mais expressiva também.


Wolverine vs Wendigo: Na ida ao Canadá, Wolverine enfrenta a maldição Wendigo, mesmo inimigo de sua primeira aparição nos quadrinhos.
X-Men vs Sentinelas: Dias de um Futuro Esquecido, e o massacre dos mutantes. Mais contida, porém mais emocionante.

Kitty vs Ngarai: O demônio que invadiu a mansão derrotado por Kitty Pryde. Essa junto com Wolverine, são minhas duas sequências de ação favoritas de Byrne. Aqui narrativa e expressividade se destacam, além das boas ideias no uso do poder de atravessar paredes.





Jim Lee
Lee tem um estilo único de desenhar, que foi imitado por diversos artistas nos anos 1990, e ainda hoje, encontramos alguns bem similares. Sua narrativa foca mais em cenas “espetaculares”, com poses heroicas a todo momento. Sua arte é belíssima, e é realçada pelo uso de quadros maiores, que permitem uma melhor visualização de detalhes. Jim Lee tinha um capricho com fundos um pouco maior do que os demais de sua época. Sua personagem de maior destaque na ação para mim, é Psylocke.

Lady Mandarin: Aqui colocamos duas cenas, a batalha de Lady Mandarin (que é Psylocke) trabalhando pela primeira vez como criminosa, e a luta final.
 






Wolverine e Capitão América em Madripoor: Um dos melhores trabalhos de Lee nos X-Men. Arte belíssima, quadros bem grandes.




Wolverine, Psylocke e Jubileu: Ocorrida durante Programa de Extermínio, o trio enfrenta uma guarda de Genosha. Também quadros grandes. Destaque pra Jubileu segurando em Wolverine e Psylocke pulando mais atrás.


Luta no espaço: Pouco antes da nova mensal, uma luta com destaque para Gambit. Aqui, vemos um raro momento de Jim Lee usando 3x3 numa página.






Sala de Perigo: Na HQ mais vendida da história, uma de suas melhores sequências de ação. A imagem de Vampira e Colossus podem facilmente serem definitivas destes personagens. A ação segue a linha de artes grandes, e narrativa mais espaçada, mas não menos efetiva.




Magneto vs X-Men: Diferente de Byrne, não tão um a um assim. Imagens belíssimas de Fera, Psylocke e Magneto.



Ômega Vermelho: Numa das melhores histórias de Jim Lee, Psylocke brilhando e a entrada bombástica dos X-Men na luta valem a nossa lembrança.





Luta no esgoto: Pra mim, o auge de arte interna de Jim Lee nos X-Men. Uma cena de ação gigantesca que envolve até mesmo Motoqueiro Fantasma. Mais quadros grandes, mais artes de altíssima qualidade. Uma das artes de Psylocke foi usada como referência no jogo Marvel Super Heroes.





No quesito ação, sou obrigado a ficar em cima do muro. Creio que Byrne e Lee alcancem a “nota 10” cada um a sua maneira. Byrne é mais expressivo (como veremos mais a frente), sabe passar tensão, medo e raiva numa cena. Sua narrativa é mais detalhista, ao mesmo tempo que não perde a qualidade absurda de detalhes de sua arte. E como falei, é o grande desenhista de uma cena de ação de Wolverine na história dos X-Men.
Jim Lee, em contrapartida, não é tão expressivo, mas sempre consegue trazer para as histórias um clima bem característico de HQs de super-herói, que permite que sua abordagem “bombástica” funciona maravilhosamente bem, dando a ideia de que os mutantes estão prontos pra brigarem contra qualquer um, especialmente Psylocke. Suas poses fazem frente ao dinamismo de Byrne.
Vencedor: Empate

Expressividade
Essa categoria é talvez a mais díspar dentre todas que escolhi. É uma verdadeira covardia. Mas faremos a comparação para cumprir tabela.

John Byrne
Byrne é um mestre em expressividade. Já tendo lido muitos quadrinhos (e com muitos ainda por ler), considero ele o melhor artista de todos os tempos em expressar emoções em uma HQ. Ele consegue fazer qualquer tipo de cena, com qualquer sentimento. Como veremos nos exemplos abaixo:

Sustos:
Tempestade e Noturno vendo Wolverine assassinar um inimigo
Kitty e o Ngarai

Tensão:
Moira e o Marido
Ciclope confronta Jean

Alegria:
Fera reencontra Ciclope

Wolverine reencontra Heather

Jim Lee
Esse talvez seja o maior calcanhar de Aquiles de Lee. Ele passa bem emoções de raiva, de batalha, mas peca nas outras emoções. Tudo que ele faz fora de raiva ou é muito exagerado, ou é muito simples. Veremos nas imagens abaixo:

Jean e Tempestade

Moreau e MacTaggert na TV

Mandarin e Matsuo

Vampira, Fury e Magneto


Magneto e Moira

Aqui, as imagens falam por si só. Byrne sobra na expressividade.
Vencedor: John Byrne

Designs
Agora veremos o que Byrne e Lee criaram em termos visuais para os X-Men.

John Byrne
Byrne usou os uniformes já estabelecidos dos X-Men. Mas criou outros personagens que tem visuais marcantes.
A Tropa Alfa: Sua grande criação. Heróis legais e que ainda ganharam título solo, que foi comandado pelo próprio Byrne.

Rei das Sombras

Arcade: criado em Marvel Team-up

Kitty: adolescente, recruta, usando o uniforme mais clássico

Cristal: a inspiração no disco

Clube do Inferno



O Futuro: designs dos X-Men mais velhos, bem menos heroicos que o normal

Jim Lee
Lee não só protagonizou grandes designs de personagens, mas também foi referência pra muitas coisas fora dos quadrinhos, como os jogos de videogame da Capcom que envolviam os X-Men, além do desenho animado dos anos 1990.

Psylocke: Lady Mandarin

Ômega Vermelho: visualmente, reúne o melhor dos anos 90.

Redesigns das roupas: Vampira, Ciclope, Gambit, Psylocke. Para muitos fãs, o artista definitivo destes 4 personagens


Referência para mídias fora dos quadrinhos: o desenho dos anos 90/os jogos de luta da Capcom

Daria a vitória aqui para Jim Lee. Acho que o contexto favorece muito a ele. Lee não teve nenhuma criação como a Tropa Alfa, que ganhou sua revista própria inclusive, mas seu design é sinônimo de X-Men para muita gente, vindo num período de maior popularidade da franquia, além de ser referência visual para além da mídia dos quadrinhos. Acredito que este último fator pese bastante.
Vencedor: Jim Lee

Pinups/Rascunhos/Comissões
Veremos aqui desenhos feitos por iniciativa própria, ou para fãs em eventos de quadrinhos. Os desenhos de Byrne serão de um livro com sua arte, focando nos X-Men obviamente, e Jim Lee, de suas redes sociais, onde constantemente faz transmissões e posta suas artes.

John Byrne
Byrne mantém uma alta qualidade na sua arte, com expressividade a mil. Contudo, ele sente um pouco a ausência de Terry Austin, que fazia uma arte-finalização brilhante em seu trabalho.


 


Jim Lee
Acredito que aqui, Jim Lee brilhe. Seu grande mérito hoje, como artista, está na criação de capas e nessas artes pinup.








Vencedor: Jim Lee

Na nossa contagem final, ficamos assim: 
John Byrne: 6 pontos
Jim Lee: 4 pontos
Terminamos por aqui, dando a vitória a John Byrne, mas reconhecendo a qualidade da arte de ambos, que marcaram a história dos quadrinhos para sempre. Basicamente podemos resumir da seguinte forma: Byrne é o cara que você quer trabalhando nas HQs mensais, e Jim Lee, é aquele cara que aparece para fazer as capas variantes, ser referência das suas action figures e ser o pôster do seu quarto.